quarta-feira, junho 29, 2005

Amor neutro

"Amor neutro. O neutro soprava. Eu estava atingindo o que havia procurado a vida toda: aquilo que é a identidade mais última e que eu havia chamado de inexpressivo. Fora isso o que sempre estivera nos meus olhos no retrato: uma alegria inexpressiva, um prazer que não sabe que é prazer – um prazer delicado demais para minha grosssa humanidade que sempre fora feita de conceitos grossos.
- Fiz tal esforço em me falar de um inferno que não tem palavras. Agora como falarei de um amor que não tem se não aquilo que sente, e diante do qual a palavra "amor"é um objeto empoeirado?
O inferno pelo qual eu passara – como te dizer? – fora o inferno que vem do amor. Ah, as pessoas põem a idéia de pecado em sexo. Mas como é inocente e infantil esse pecado. O inferno mesmo é o do amor. Amor é a experiência de um perigo de pecado maior – é a experiência da lama e da degradação e da alegria pior. Sexo é o susto de uma criança. Mas como falarei para mim mesma do amor que eu agora sabia?
É quase impossivel. É que no neutro do amor está uma alegria contínua, como um barulho de folhas ao vento..."

A Paixão segundo G.H.